quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Um ano depois - parte 2

segunda-feira, dia 01 de dezembro de 8005.
Aids, no more. Só hoje. Só o Paulinho vai entender esta piada. Acabo de saber do Célio aqui em Amsterdan que o Paulinho tatuou “só hoje”, em seu corpo. Este ato foi presenciado e apoiado por sua namorada nova. Disse que é uma espécie de religião essa do “só hoje”. Será por abstinência, ou pela carreira nossa de cada dia?
Ok. Melhor guardar só pra mim. Ou exatamente ao contrário.
Quero performar na frente do Madame Tussod esculpindo-me em argila como um manifesto em prol do cidadão não-popstar a pleitear seu lugar de “desconhecido” na galeria do Madame Tussod. Eu sei que lá as estátuas são feitas de cera. Mas vai ser um ato em prol de todos os seres não-popstar existentes no mundo. Parece egóico num primeiro momento. Um pouco mártir demais pro meu tamanho. Mas a maioria vence. Pedirei assinaturas pro meu manifesto e deixarei escrito meu conceito. Hoje performavam na frente do Madame Tussod: um homem vestido de “O Máscara”, um louco acorrentado numa camisa-de-força, que batia seu objeto de auto-flagelação no chão e um Aladin mais pra frente. Minha idéia necessita registro em vídeo. Pirei muito com a gaita de boca do Célio. Quem sabe eu não peça uma participação do aleijado da gaita de boca ou pra menina da ponte com acordeon? Toquei uma música sertaneja na gaita de boca. Poderia ser beijinho doce. Poderia ser uma cena dos “Dois Filhos de Francisco”. O Josh disse que a minha música parecia Gospel. Ok. Mudemos de assunto.
Olhar um caralho conservado em formol mudou a minha vida. Este pote junto com fetos de animais como vaca ou cavalo, ou peixes conservados (e não eram rolmops) faziam parte da exposição que adentrava o salão de tatuagem, o qual depois de amanhã terá o meu corpinho disposto feito um filé na mesma cadeira onde já deitou Kate Moss, e Mel C. das Spice Girls. Ganhei uma tatuagem de formiga pela minha visita à Amsterdan. Eu diria que este caminho foi sonhado pela minha pessoa e agora só estou vivendo esta dádiva. Explico. Tudo começou com a visita ao Museu do Salvador Dalí em Figueras. Mas não que comece exatamente aí, mas a vida faz questão de me dar inúmeras indicações de como fazer o meu caminho iluminado de volta. Preciso voltar aos meus 11 anos e o meu primeiro contato com a obra de Dalí. A persistência da memória. Minha irmã fazia trabalho de artes. Ela pedia inúmeras referências ao seus alunos e num passe de mágica me supreendo com seu universo. Culpa dele, ou minha, ou da Gala, ou das formigas. Eu colecionava formigas na minha infância. Era uma compensação de uma criança urbana sem animais de estimação. Entendo. Entendo também minha vontade de transformar minha vida num cinema. E que eu encontre o Tarantino no mercado, oras bolas! Ele pode ser essas pessoas que já vem à Amsterdan faz muito tempo, e que já acha que no verão esta cidade é over demais pra ele, quem sabe ele tenha nascido no outono, como eu, e decida sentir este frio nesta época do ano. Pode ser exagero meu, mas na sequência de eu confessar este meu apego ao cinema ao Josh, simplesmente me deparo com uma gravação de TV. Eu contei, na seqüência a ele sobre o fato de eu ter presenciado o exato momento em que gravavam um take de um homem correndo com uma arma em paris. Eu fiz parte da cena. Quero fazer parte da cena do meu filme que faço todo dia quando acordo. Ou quando durmo. Minha vida é um sonho. Dias de sonho em Amsterdan. “Só hoje” parece que eu vivi uns 3 dias em um. E a primeira cena do filme: Andando em Amsterdan à noite com o som da igreja tocando. Última cena (pode ser uma animação): Uma onda gigante (40m) toma Amsterdan. Daqui uns 80 anos. Anúncio na pré-estréia do curta(que também pode ser o título do filme): "A partir de amanhã, pela minha pele, passeará eternamente uma formiga”. Culpa de quem? Nenhuma. Nenhuma culpa na cidade que sente a instabilidade e a escuridão da água que corre debaixo dos vossos pés.

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